O Pêndulo do Relógio

A leitura e a escrita são uma importante ferramenta de construção, mas para que elas possam funcionar de forma eficaz devem acontecer de maneira prazerosa e natural  e não pela imposição, pela obrigação ou como castigo.  (Mateus Fischer)


  • Aqui serão publicadas análises e discussões referentes ao livro/novela  '' Pêndulo do Relógio '' de Charles Kiefer, estas produzidas pelo 3º e 4º ano do Curso Técnico em Agropecuária.

... um ser inocente... 
(Marciano Bresolin)

Agricultor é um ser inocente, muitas vezes sem estudo, analfabeto ou semianalfabeto, incapaz de acreditar na maldade de alguém, por causa de uma ingenuidade pura trazida de familia, no cado do sul do Basil geralmente de origem Europeia, e cultivada em uma vida honesta de muito sofrimneto e trabalho árduo, muitas vezes é perdido esse senso de maldade. Ler um contrato na hora do financimento da lavoura se torna algo tão dificil, pois lhe faltam letras e palavras para construir o conteúdo presente nos papeis, e ai que mora, ou já morou o perigo para muitos agricultores inocentes querendo prosperar e financiar suas terras. 


...  a turbulência encontrada em Alfredo é consequência de dividas que possui com o banco... 

(Arthur Halmenschlager)

Na zona rural a vida é essa, para muitos, ''mesquinha'', mas para os agricultores, cheia de amor, pois tudo o que fazem, é para alimentar seus filhos e deixar a eles um bom futuro.  Mas após ir à cooperativa e ao banco, sabendo que suas terras estavam empenhoradas, a sua vida fica cada vez mais dificil. Alfredo fica mais velho, dia a dia e demonstra isss com a desmotivação. 

Novamente, as cruéis badaladas do pêndulo d relógio voltam a lhe atormentar, em uma noite clara, de relâmpagos, e ventos fortes, ele não dorme, não consegue dormir, pois tudo parece estar perdido, e ele se entrega, pois cansa de resistir. Da forma mais cruel, Alfredo paga sua divida com o banco e ironicamente com um sinal de luto o pêndulo do relógio para de badalar, junto com os pensamentos do humilde agricultor. Alfredo, sem mais nada a pensar, vai até o galpão e se liberta, com uma corda em meio ao seu pescoço que lhe reflete a paz. 



 ... ele vai até a cooperativa, onde é informado do tamanho de sua divida... 

(Moacir Guedes Pelizzon)

 A sociedade mudou com a introdução da soja em quase toda a totalidade das propriedades agrícolas  de forma geral. Com ela os produtores com mais conhecimentos e com um acompanhamento e ''arriscando'', pois os agricultores não levavam fé nos técnicos , acreditavam que se seus antecedentes faziam de tal forma não teria por que muda-la , então os que acreditaram nos conhecimentos técnicos e tinham maiores condições de investir nesses, puderam ter melhores produções e assim melhores condições de vida, e até conseguiram comprar áreas de terra de seus vizinhos que não tiveram tal ''sorte''.

Esta é mais uma das belas obras de Charles Kiefer, que mostra a real situação que os mini fundiários passaram ao se iludirem com a soja. Se endividando a tal ponto de terem de vendes suas propriedades para quitar suas dividas em bancos ou até mesmo o suicídio  no caso de Alfredo.



... e se tivesse continuado a plantar milho, mandioca...


(Marco Aurélio Pinheiro)

A obra de Kiefer, "O Pêndulo do relógio” retrata a cruel realidade de um modelo de desenvolvimento econômico, através do incentivo para a produção de culturas, principalmente a soja, intitulada como ouro verde, sem que se preocupassem com a viabilidade deste sistema emergente. 

Gera-se, com isso, uma desestruturação social, além de falência econômica relativa a consecutivos insucessos produtivos oriundos da falta de tecnologias adequadas às diversas realidades produtivas. Também, a maioria da sociedade deste período não estava pronta para essas mudanças, e com isso, perderam-se hábitos e costumes que os sustentaram por milhares de anos, trocadas pela ilusão da soja.

Estimula-se a troca de áreas antes cultivadas com alimentos, para implantação a soja e, para isso, utilizam-se empréstimos bancários. Essa ação desencadeou a maioria das falências pelo fato de insucessos produtivos oriundos de eventos climáticos desfavoráveis para produção. Isso se deu também pela falta de tecnologias adaptadas a esse novo modelo produtivo, fazendo com que, juntamente a essas falências e consecutiva vendas das terras, ocorresse a perda do conhecimento e modelo de vida que apresentavam durante muito tempo.

“Nem o terço rezamos mais. É verdade. Sem que o percebessem, foram deixando de fazê-lo. Antes, reuniam-se ao redor do fogão após a janta e diziam dezenas de padres-nossos e ave-marias. Depois iam dormir em paz, consciência tranquila” (p. 80). “Esperaria sentado a chegada da segunda-feira ou correria pela vizinhança pedindo dinheiro emprestado? Adiantaria? Teriam quantia tão alta para lhe emprestar? Não, a maioria dos colonos está enfrentando dificuldades, a crise é geral” (p. 82). “A fortuna ele consegui foi emprestando dinheiro do banco, aplicando na compre de mais terras, fazendo inovações, aprendendo com os técnicos da cooperativa. Enquanto uns se encolhiam, medrosos, foi à luta, cresceu, se expandiu. Acabou devorando os encolhidos... Errei nalguma coisa. E se tivesse continuado a plantar milho, mandioca, batata-doce, fumo, feijão? Não devia era ter plantado só trigo e soja.(p. 84,85). “Podia sonegar. Não, trabalhará feito um escravo, mas pagará até os centavos. Última coisa que pode se orgulhar: a honestidade. Dela não abrirá mão, jamais” (p.86). “_ Sabe, Alzira, estou cansado desta vida. Que tal se a gente fosse para a cidade? – Nunca, Alfredo. Saio daqui morta, viva não. Gosto disso, não sei viver nessa confusão. E o que é que a gente ia fazer lá?”(p. 118).

Levando em consideração esses fragmentos do texto, podemos avaliar todo o processo de mudança que ocorreu em nossa sociedade, sendo que, essas mudanças foram muito abrutas, além de predatórias. Muitas vezes, rebaixava os colonos e tratando-os como meros objetos, a tal ponto de forçá-los a executar medidas extremas de alívio da consciência, através da retirada de suas vidas e, quando não chegavam a extremos se viam obrigados a se desfazerem de suas terras para pagarem suas dívidas. No entanto, sendo obrigadas a migrar para centros urbanos, mesmo que muitas vezes isso ocorra contra a vontade destes.

A obra “O PÊNDULO DO RELÓGIO”, (KIEFER, 2009), retrata a realidade de muitas famílias interioranas que passaram por essa fase de mudança socioeconômica em nosso país e, frisa a dor de um chefe de família, criado em um modelo antigo, tentando manter a ordem e buscando resolver todas as situações adversas. No entanto, neste período de transição muitos não conseguem dar conta, pois a viabilidade desta tecnologia inovadora não fora levada em consideração e, este fenômeno está bem demonstrado no texto. 

Também podemos verificar a diferenciação cultural e social, das pessoas que se encontravam em diferentes fases deste desenvolvimento, o qual muitas vezes não era vantajoso. É um texto claro, com leitura leve e fluente, capaz de fazer com que o leitor se ponha no lugar de Alfredo (personagem principal) e sinta todo o peso de suas escolhas.


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