A red@ção do correio
eletrônico
A clareza e a etiqueta viraram qualidades cada vez mais
valorizadas na comunicação on-line
Maria Helena da Nóbrega
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A quantidade de
mensagens eletrônicas enviadas e recebidas diariamente ampliou o contato com o
texto escrito e fez prosperar o número de autores e leitores. De maneira
bastante rápida, a correspondência eletrônica invadiu a comunicação diária, e
mesmo os mais refratários aos avanços tecnológicos tiveram de aprender a usar o
computador, para não perder oportunidades profissionais ou eventos sociais cujas
respostas são solicitadas por e-mail, por exemplo. A facilidade na utilização,
a rapidez na resposta - às vezes on-line - e a economia com gastos de postagem
pelo correio contribuíram de forma decisiva para a disseminação desse tipo de
comunicação.
Difundir
formas adequadas para a correspondência eletrônica ajuda a evitar o mau uso da
tecnologia, como os presenciados quando as pessoas começaram a ter acesso a
telefones celulares e obrigavam todos os presentes, em lugares públicos, a
ouvir assuntos privados. Hoje esse tipo de gafe ocorre, ainda que de forma mais
rara, mas já é visto como deselegância. A etiqueta também já ensinou que atender
ao celular em cinemas é grosseria extrema rejeitada pelas regras mais básicas
de educação.
Como
ocorreu com os meios anteriores, a orientação sobre como usar adequadamente a
correspondência eletrônica auxilia a evitar, por exemplo, que o e-mail enviado
a algum colega seja distribuído inadvertidamente a todos os funcionários da
empresa, com assuntos que o emissor preferiria não tornar públicos, pelo menos
não da maneira como aparecem no texto.
Eis, a
seguir, algumas sugestões que podem impedir que o e-mail naufrague nas ondas da
internet ou intranet (rede privada utilizada em determinada empresa).
Maria
Helena da Nóbrega é professora do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas
da USP. Leciona na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, campus
de Ribeirão Preto. É autora de Estratégias de comunicação em grupo (Atlas,
2007).
Para a pressa na
leitura, exatidão na escrita
É
fundamental lembrar que o destinatário do e-mail provavelmente esteja
atarefado, com várias atividades a desenvolver e decisões a tomar. Na correria
dos afazeres diários, uma leitura rápida do texto é o máximo que ele poderá
fazer para apreender de que se trata: uma solicitação, um agendamento, uma
confirmação, um cancelamento etc. O fator tempo, no entanto, não justifica
colocar as respostas e comentários no meio do texto recebido. Em vez de quebrar
o e-mail, deve-se responder em texto personalizado.
Os
e-mails apresentam um tipo de texto que recorre à língua escrita e língua
falada, produzindo uma mescla entre as características dessas duas linguagens.
A redação rápida assemelha-se à fala de improviso. Pensa-se e digita-se quase
simultaneamente. No entanto, como o texto não terá intervenções do destinatário
em relação a imprecisões, tampouco o redator poderá esclarecer trechos
obscuros. Consequentemente, escrever de maneira rápida exige bom poder de
síntese e boa capacidade de ler e reler, para editar o texto antes de enviá-lo.
Adapte-se ao
nível de formalidade
Quando o
e-mail é enviado em substituição a um bilhete ou contato telefônico, a
linguagem usada pode ter maior grau de informalidade. Nesses casos, ele
aproxima-se da fala, embora seja importante considerar que a mensagem será
lida. Um dos problemas comunicacionais advém de o redator escrever como se
falasse despreocupadamente, com frases mal organizadas e sem clareza. Mesmo que
o texto tenda à informalidade, devem-se evitar erros que comprometam a imagem
do redator e da instituição que ele representa.
Quando o
meio eletrônico substitui memorando ou comunicado interno, a formalidade
aumenta, tendo em conta o conteúdo e o destinatário. Aí é preciso considerar as
características da redação empresarial, que se renovou nestes anos. Tropeços
são mais facilmente evitados quando se tem hábito de leitura de textos bem escritos.
Como redação empresarial demanda rapidez, convém redobrar a leitura não só de
livros de sua área, pois isso facilitará a redação coesa e coerente.
Não embaralhe
ideias
Os textos
devem priorizar a simplicidade, clareza e objetividade. Uma vez que ninguém tem
tempo a perder, o vocabulário deve fazer parte da linguagem usual, sem
rebuscamentos que tornem a mensagem hermética. Simplicidade vocabular,
entretanto, não significa repetição exaustiva de termos, daí a importância de
ampliar o vocabulário por meio de leituras constantes. Adquirir o hábito de
leitura também leva à redação concisa, pois os e-mails devem ser breves. Lendo
apreende-se a estrutura do texto escrito, o que facilita a produção de textos
concisos, coerentes e coesos.
Embaralhamentos
de idéias devem ser eliminados, pois eles dificultam ou impossibilitam o
entendimento. Dá-se preferência, portanto, a frases curtas. Além de elas serem
mais fáceis de compreender, textos longos cansam o leitor, que tentará, em
pouco tempo e muitas vezes sem sucesso, entender de que trata o fluxo de idéias
que jorra do texto. Esse estilo emaranhado também foge à objetividade
necessária à redação
profissional.
Faça releitura
O texto
escrito pressupõe releitura, e isso vale também para correio eletrônico. Mesmo
dispondo de pouco tempo, o redator deve reler o texto para perceber se o
sentido corresponde à intenção motivadora do ato de escrever. A pontuação
requer cuidados especiais, pois sinais ausentes ou inadequados podem alterar o
sentido do que se pretende dizer. A entonação ascendente de uma interrogativa
direta permanecerá apenas na mente do autor, caso o texto escrito não apresente
o sinal de interrogação, e por isso não haverá resposta. Outro exemplo são as
vírgulas, cuja presença ou ausência pode alterar o significado: "Ele não
falou, de alegria" ou "Ele não falou de alegria". No primeiro
caso de alegria refere-se à disposição psicológica da pessoa, e no segundo caso
diz respeito àquilo sobre o que ele não falou.
Reler o
e-mail e editá-lo antes do envio são atitudes que ajudam a garantir que a
mensagem pretendida seja condizente com o que se
escreveu.
Anuncie com clareza o tópico frasal
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Para
otimizar o tempo de leitura, o item "assunto" já deve anunciar com
clareza o tópico frasal, ou seja, uma síntese do tema principal do texto.
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De
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Gabriela
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Para
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Armando
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Assunto
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Cancelamento
da reunião de 15/9/2008
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Clareza da mensagem
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Mesmo
quando se repassa um material recebido, favorece a clareza da mensagem
escrever o "assunto" e uma breve introdução no corpo do e-mail,
para esclarecer por que o tema é de interesse do destinatário.
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De
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Manoel
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Para
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Fábio
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Assunto
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Curso
como falar em público
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Bom-dia,
Fábio
Recebi o arquivo anexo. Como você me falou sobre o seu interesse em fazer cursos nesta área, talvez ele traga o que você procura.
Abraços.
Manoel. |
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Verificação de e-mails e respostas
Com
a massificação da tecnologia, as pessoas trabalharão menos, conjecturaram no
início da era tecnológica. Engano! Trabalha-se mais, pois as máquinas não
necessitam de repouso e podem estar ininterruptamente conectadas.
O correio
eletrônico deve ser verificado com freqüência. Como dispensa carteiro, a
resposta é aguardada ASAP, as soon as
possible (tão cedo quanto possível), o que é entendido como imediatamente.
Pode ser que o remetente aguarde resposta para agendar reunião. Caso se fique
ausente, deve-se programar a "resposta automática", para que os
outros sejam notificados sobre quando irá a resposta.
Elegância
eletrônica
É
elegante responder a todas as mensagens recebidas, no mínimo para acusar o
recebimento. Sem isso, o remetente pode sempre ficar em dúvida se o e-mail foi
realmente recebido. Ignorar o e-mail de um colega de trabalho equivale a
ignorá-lo, o que é no mínimo uma descortesia. Além disso, o envio não garante
que a mensagem tenha sido lida. Portanto, nada de cobrar do colega uma posição
discutida por e-mail e, se houver urgência - urgentíssima - para decidir algo,
é melhor optar por telefonar ao colega, na impossibilidade de encontrá-lo
pessoalmente.
Para
finalizar o texto, despeça-se do destinatário com cordialidade. Pode-se optar
por usar uma assinatura padrão com poucas linhas sobre informações básicas do
remetente: nome completo, empresa, cargo, telefone.
E-mails são
confidenciais?
A maneira
mais natural para tratar os e-mails é considerá-los como uma correspondência
escrita, seja uma carta, seja um cartão-postal. Em ambos os casos, prega a boa
educação que não se tenha acesso ao texto sem a permissão do destinatário. No
entanto, mesmo quando o conteúdo encontra-se lacrado, alguém pode abri-lo. E
e-mails não vêm em envelopes! A facilidade em reproduzi-los e enviá-los a
terceiros pode minimizar o ato de violação, de ofensa ao direito alheio.
Nunca se
deve repassar o texto recebido de uma pessoa para outras, exceto com o
consentimento dela. Sem permissão, agride-se o senso de confiança, princípio
básico nas relações sociais. Por outro lado, convém redigir levando em conta
que o texto poderá ser eventualmente lido por outras pessoas além do
destinatário.
E-mail não rima
com emoção
Escrever
não é o mesmo que conversar frente a frente, contando com recursos corporais,
expressões fisionômicas, entonação de voz, maneirismos reveladores das
intenções etc. É preciso ter domínio da linguagem escrita para conseguir
envolver o leitor e trabalhar com as emoções dele, dispondo-o para o riso, a
tristeza, a curiosidade etc. Felizmente, para escrever bem e-mails não são
necessárias tais habilidades, desde que o autor não tente lidar com conteúdo
emocional.
O melhor
é evitar expor-se emocionalmente por e-mail, pois as chances de ser mal
interpretado são grandes. Portanto, devem-se frear os instintos bélicos ao
receber um e-mail do qual se discorde. Escrever em CAIXA ALTA, como se
estivesse gritando, não é civilizado. O ideal é acalmar-se e escolher outro
momento (e meio) para solucionar o assunto. Mesmo brincadeirinhas devem ser
evitadas, pois os recursos gráficos disponíveis nem sempre darão conta de
transmitir a intenção de forma inequívoca. Conhecer as limitações dessa
tecnologia impõe um comportamento verbal mais comedido.
Ética e e-mail
Ao
utilizar o e-mail de uma empresa, a voz que se manifesta no texto não é apenas
a do autor, mas também a da instituição que ele representa. Por conseguinte, as
informações veiculadas devem ter credibilidade e não comprometer a empresa e os
demais profissionais. Respeitar o destinatário é essencial, tanto no conteúdo
quanto na forma do texto. Qualquer deslize será interpretado como sendo do
autor, mas também contribuirá para macular a imagem da empresa.
Nesse
contexto, não há espaço para enviar a piada mais engraçada do mundo ou a
corrente que trará a felicidade eterna e, portanto, não pode ser quebrada. Esse
tipo de mensagem, além de agressiva e constrangedora, revela muito do emissor.
A redação
adequada de e-mails, com concisão, coesão e coerência textuais, forma uma
imagem afirmativa do autor, adiciona pontos positivos a seu marketing pessoal.
As empresas sabem disso, por isso valorizam cada vez mais quem sabe se
expressar bem por escrito e pode representá-las com dignidade. Por isso muitas
delas criam um código de ética que deve ser usado por todos os que utilizam o
correio eletrônico em nome da empresa. Fica aqui a sugestão de que as empresas
que ainda não têm esse protocolo criem-no, pois ele educa e conscientiza o
usuário sobre a utilização correta e ética do e-mail. Nas escolas, o aluno
também deve receber as normas definidas pela instituição de cuja tecnologia ele
passa a usufruir.
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