OS DEZ MANDAMENTOS DO E-MAIL
Medo de mensagens mal interpretadas, contaminação da marca e
perda de produtividade fazem empresas seguirem regras para a conversa on-line
Por Carmen Guerreiro
O uso indevido de abreviações, formalidades ora excessivas ora inexistentes, o equívoco de linguagem e tratamento, a falta de objetividade e assertividade são ruídos corriqueiros na comunicação eletrônica.Pesquisa da Pew Global, de 2011, mostra que 92% dos internautas usam o e-mail como principal ferramenta de comunicação, mais que smartphones e redes sociais. Mas, na era da web 2.0, da conexão móvel, constante e com alta interatividade, avança também o outro extremo, de internautas que capengam ao escrever um e-mail eficiente. Começando por aqueles na dianteira da web 2.0.A escrita não produz o mesmo efeito da fala. A afirmação, óbvia, parece ignorada por pessoas cada vez mais conectadas o tempo todo, por tablets, smartphones ou computadores. A comunicação escrita parece ter tomado a dianteira em várias frentes antes dominadas pela fala. Essa prevalência fica clara na preferência crescente por e-mails, torpedos, chats, tuítes, comentários e posts como forma de expressão e comunicação.
Segundo Ruy Leal, superintendente do
Instituto Via de Acesso, que prepara e insere jovens no mercado de trabalho,
90% da comunicação feita e recebida pelas entidades privadas hoje é via e-mail.
- Isso é uma arma que o colaborador tem
na mão. Se não estiver muito bem orientado e preparado, pode escrever absurdos
em seus e-mails - alerta.
Munido de um e-mail corporativo, qualquer
um pode falar em nome da organização. Leal sabe que rispidez, ironias e
brincadeiras mal interpretadas geram desentendimentos por conta da linguagem
que se pretende distante e próxima ao mesmo tempo. Por isso, os especialistas e
as empresas tentam sistematizar as regras que regem a comunicação por e-mail.
Linguagem
A apreensão tem levado empresas a
consultores que capacitem funcionários a redigir e-mails não só sem deslizes na
língua portuguesa, mas eficientes e adequados à comunicação profissional. Coach
executiva e educadora corporativa da Atingir Coaching e Treinamento, Regina
Gianetti Dias Pereira se especializou em oferecer cursos de comunicação
empresarial, e diz que treinamentos para mensagens eletrônicas são cada vez
mais pedidos.
- E-mails mal escritos, confusos, pouco
claros, feitos sem consistência, geram mal-entendidos, perdas de negócios,
tempo e, especialmente, produtividade - observa.
A primeira lição é que dominar a
tecnologia não significa domínio do uso da linguagem. Daí a falsa impressão de
que pessoas conectadas e integradas tecnologicamente se comunicam via internet
com mais propriedade, quando na verdade uma habilidade independe da outra. O
que faz diferença são alguns cuidados de adequação da linguagem para o contexto
da comunicação.
Regina conta o caso de uma instituição
que gerencia pensões e aposentadorias e que possui cadastrados milhares de
pensionistas. Segundo ela, a administração enviou um e-mail sobre uma mudança
que seria feita nos pagamentos.
- Era para ser algo simples, mas foi
escrito de uma maneira tão confusa que ocorreu um colapso na central de
atendimento da empresa, porque ninguém entendeu a mensagem, terminou se
assustando e teve de ligar - relata.
Contra esse tipo de situação, Língua
apresenta a seguir dez dicas para quem quer escrever um e-mail claro, conciso,
adequado e, acima de tudo, eficiente.
Quando usar
O e-mail não é o melhor meio de
comunicação em todas as situações. A coach executiva Regina Gianetti aconselha
que o correio eletrônico seja escolhido só quando não é necessário que o
destinatário esteja disponível naquele momento, e a resposta não seja esperada
com urgência. Se o conteúdo precisa ficar documentado, também é um meio ideal.
- Quando o assunto é emocionalmente
delicado, não se deve usar o e-mail, porque pode haver má interpretação -
afirma.
O problema, segundo ela, é que as pessoas
têm usado essa ferramenta como muleta para não se comprometer, passando a
responsabilidade para o destinatário com um simples clique no botão
"enviar".
Para assuntos mais pontuais e urgentes, é
melhor optar por mensagens instantâneas, como Skype, torpedos, Messenger,
Twitter e WhatsApp.
O esquecimento da identificação
Um grande vício de quem se acostumou a
usar a internet a partir de chats e outros sistemas de mensagem instantânea é
esquecer de identificar-se ao escrever um e-mail, tanto no início do contato
quanto no fim, ao deixar de assiná-lo. Ruy Leal, do Instituto Via de Acesso,
considera isso um dos maiores problemas dos jovens que desejam ingressar no
mercado de trabalho.
- Já recebi e-mails sem
assinatura pedindo um estágio. Eles têm coragem de usar um endereçamento de
e-mail que não tem a ver com o meio corporativo, do tipo''luluzinha17@...'',
para pedir um emprego - diz.
É vital assinar um e-mail e, em um
primeiro contato, não esquecer de explicar no início quem você é. Mesmo que não
seja pedido, confirme o recebimento da mensagem, até quando não tiver resposta
completa no momento. Um "ok" ou "recebido" mostra disposição.
O cuidado com as saudações
O e-mail é uma situação de comunicação, e
precisamos saudar as pessoas quando nos dirigimos a elas. No início de um
e-mail, "olá" e "bom dia" são cordiais, sem serem informais
demais, explica Regina. "Prezado" é extremamente formal e, se não for
um caso de rígida impessoalidade, é exagerado. A regra, segundo a especialista,
é que, se existe uma troca de e-mails com certa regularidade no dia, o primeiro
deve contar a saudação, que pode ser dispensada nas outras mensagens.
Os cumprimentos de despedida são
igualmente importantes, e não são substituíveis por uma assinatura eletrônica.
Mas Regina alerta: "Atenciosamente" é abreviada de forma incorreta no
Brasil como "att.", quando deveria ser "atte.".
- "Att." foi importado do
inglês e faz referência à expressão in attention to, que é usada só no começo
de um e-mail - explica.
"Cordialmente" é considerado
também exageradamente polido, a ser usado em casos específicos. A sugestão de
Regina é que, ao escrever a mensagem, pensemos na maneira como saudaria a
pessoa se a encontrássemos frente a frente, e adequemos os termos a isso.
Atenção ao assunto
O campo do assunto deve refletir o
conteúdo da mensagem.
- Muitos não têm essa noção. Você tem de
chamar a atenção da pessoa na caixa de entrada, porque ela recebe vários
e-mails por dia e vai determinar o grau de urgência de cada um ao olhar para os
assuntos - conta Regina, que diz receber por vezes e-mails em que o remetente
coloca, no campo do assunto, o nome da empresa em que trabalha.
Uma dica é escolher palavras-chave que
resumam o conteúdo do e-mail em cerca de três a quatro palavras. Em vez de
"Segue relatório de vendas referente ao ano de 2012", por exemplo, é
melhor: "Relatório vendas 2012".
No entanto, é preciso ser específico e
fugir de generalidades que pouco esclarecem sobre a mensagem, como apenas
"Relatório".
A falta de objetividade
Ruy Leal observa que um sério problema
dos e-mails trocados atualmente é o risco de gerar desentendimentos por serem
confusos. Por isso, dá a dica:
- Coloque-se no lugar da pessoa que está
do outro lado. Ela entenderia a mensagem? - questiona o consultor.
A experiência com cursos sobre e-mail
para empresas fez com que Regina concluísse que o maior desafio do brasileiro
com essa ferramenta é conseguir ser objetivo.
- Por uma questão cultural, damos voltas
para falar as coisas em vez de ir direto ao ponto - diz Regina.
É recorrente, ela explica, que as pessoas
comecem explicando o que querem dizer antes de, de fato, comunicar o assunto
principal da mensagem, quanto deveria ser o contrário.
- Se eu vou dizer por que o relatório não
está pronto, é comum querer explicar tudo o que aconteceu para ele não estar
pronto para então, no fim, dizer "Então, o relatório não está
pronto".
Isso acontece, segundo Ruy, porque muitas
pessoas não sabem como estruturar um texto.
- Não sabem começar, avançar e terminar
de forma compreensível pelo receptor.
O calibre da formalidade
É fundamental compreender as regras do
ambiente de trabalho para saber que tom se pode adotar com o interlocutor.
Alguns escritórios exigem mais ou menos polidez no tratamento. Regina observa
que existem dois tipos de profissionais trabalhando juntos hoje: os mais
velhos, que vêm do que ela chama de "a era da circular", em que toda
a comunicação se concentrava nas mãos das secretárias e eram muito mais
formais, e aqueles mais jovens, acostumados com a informalidade das mensagens
instantâneas.
A linguagem do e-mail deveria transitar
entre esses dois mundos, sem exagerar com uma comunicação impessoal, mas
obedecer à norma culta de uma maneira cordial, descontraída, como se falaria em
geral por telefone ou pessoalmente. Um cuidado importante é não exagerar na
formalidade a ponto de a mensagem soar ríspida demais, o que pode causar ruído
na comunicação.
A aversão a maiúsculas
O uso de caixa alta em todo o texto é tão
proibido que, para Regina, constitui uma verdadeira gafe. Escrever em
maiúsculas significa, na linguagem da internet, gritar com alguém. Por isso é
algo realmente a ser evitado, especialmente em mensagens de trabalho, pois é
visto como falta de educação e de consideração do remetente, além de não ser
uma postura profissional adequada.
A adequação do tamanho
Não há regras quando o assunto é o
tamanho que um e-mail deve ter, mas a experiência mostra que e-mails longos, em
geral, não são lidos. E, se são lidos, não são compreendidos em sua
integridade.
- Um e-mail longo é desinteressante. A
pessoa precisa ter o poder de concisão para falar o máximo possível em poucas
palavras, e isso é implícito à linguagem digital - afirma o professor Luiz
Castro.
Regina sugere que as mensagens tentem
girar em torno de três a quatro parágrafos, no máximo.
- Se você começa a ver que o e-mail vai
ficar longo demais, deve parar e se questionar se não deve ligar para a pessoa
ou fazer uma reunião. Perde-se muito tempo com e-mails grandes. São complexos
de responder e podem ser mal interpretados - diz.
Deve-se evitar dizer em muitas palavras o
que se poderia dizer em poucas.
O uso de abreviações
Abreviar palavras deve ser evitado, embora
não seja proibido e, ocasionalmente, possa ser usado nos e-mails profissionais,
especialmente nas saudações. A economia de tempo ao encurtar as palavras é
pouca, e a mensagem pode tender a uma informalidade excessiva.
Luiz Castro, professor da rede estadual
de ensino de Pernambuco, mestre em linguística e pesquisador da UFPE no campo
da comunicação digital, realizou um estudo sobre os tipos de risos existentes
no internetês, desde os mais escandalosos, como o "kkk" e o
"huahuahua", passando pelo "hahaha" até o "rs",
abreviatura de "risos" que, segundo ele, é o mais aceitável em uma
troca de e-mails profissionais. Ele sugere que a pessoa escolha poucas palavras
para abreviar, e não use esses atalhos o tempo todo.
A necessidade de revisão
Um texto de correio eletrônico deve ser
simples, mas não descuidado. Exige releitura e atenção para acertar o tom da
mensagem. O vocabulário deve fazer parte da linguagem usual, sem expressões
rebuscadas que tornem a mensagem complicada. Mas é preciso estar atento à repetição
exaustiva de termos, abreviações apressadas e construções truncadas.
Revise as palavras, para detectar as mal
colocadas; repasse os destinatários, principalmente se a mensagem pode ser
reenviada a muitos deles; evite comentários agressivos, pois a mensagem enviada
se torna pública.
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