quinta-feira, 11 de outubro de 2012

É trágico seu desejo de ter seu pedaço de terra



Nesta obra literária de Charles Kiefer, “Quem Faz Gemer a Terra”, é contada uma interessante história sobre a vida no campo e sobre como as condições de quem vive, ou viveu neste lugar mudaram de alguns anos para cá. Tudo começa quando Mateus o personagem principal da obra, que também é o narrador, se encontra em um presídio na cidade de Porto Alegre, RS. Mateus se encontra muito triste e arrependido por ter com a sua “maldita” mão direita assassinado um policial em um conflito do Movimento Sem Terra com a polícia. Ele narra então, como se estivesse relembrando, toda a sua historia que é bem complexa, mas expressa de forma simples pelo autor da obra.

Mateus é um homem muito corajoso, bondoso e justo, que na sua infância adorava as historias de seu Avô Lindolfo que morou com ele e seus pais, Moises e Debora em uma pequena propriedade rural, junto com seu irmão mais velho Pedro. Nesta propriedade Mateus passou a sua infância, trabalhando com seu pai, conversando e contando historias com seu irmão, e sonhando muito com as historias que seu avô sempre contava. Pedro e Mateus às vezes aprontavam, e sempre foram garotos felizes, porém sempre cercados por dificuldades. Mateus sofre muito quando seu avô morre, ele era o único que levava as historias do vô a sério. A família de Mateus vivia em uma tapera e basicamente ganhavam seu dinheiro plantando milho, arroz, batata-doce, feijão, cana-de-açúcar e mandioca. A vida seguia até que o pai de Mateus resolve plantar soja para melhorar as condições financeiras da família, mas uma seca arrasa a plantação e a família de Mateus tem de vender a propriedade para pagar a divida com o banco. 

A partir do momento em que saem da casa da tapera, vão para um assentamento do MST em Pau D’Arco, onde esperam um dia conseguir novamente um pedaço de terra para voltar a desenvolver a atividade agrícola. No MST Mateus se torna homem, faz muitas amizades, principalmente com Junqueira o líder do assentamento, e o Padre Douglas, que é o pároco que realiza o casamento de Mateus com Neusa, uma atraente mulher de olhos negros que leciona as crianças do assentamento, e desperta em Mateus um amor sem igual. 

Ainda no assentamento Mateus perde o pai, que não recebeu tratamento para sua pneumonia e acabou falecendo. Com Neusa, Mateus teve um filho que foi batizado com o nome de Pedro. A historia se dispersa do assentamento no momento que em um conflito do MST coma policia, Mateus mata um policial e vai preso. No seu clausuro ele se encontra reflexivo e pensativo sobre a vida e a partir deste infortúnio que a se dá a história.

Não só na historia de Mateus, mas também na vida real, a soja foi uma grande vilã na vida de muitas famílias que estavam estabelecidas no campo, a partir dos anos 80 com a chegada da monocultura a esperança se estabeleceu entre os agricultores com as ideias de melhoria através da implantação da cultura. O que aconteceu foi que um grande fracasso aconteceu com muitas famílias, a soja fez agricultores venderem suas propriedades para pagar sua divida com o banco, situação complicada e muitas vezes decisiva no futuro de uma família.

No MST as dificuldades não foram poucas, a morte do pai, conflitos com policias até “acidentes” com Agrotóxicos, como o caso do avião, fizeram a esperança se dispersar por alguns momentos entre os moradores, esse acidente levou mortes, abortos e mutações até o assentamento. Mas se tratando de coisas boas, foram muitas. Mateus se casou, teve filhos, fez festas e conquistou amigos. É trágico seu desejo de ter seu pedaço de terra se tornar o seu ópio, no momento do homicídio.

Charles Kiefer conseguiu construir uma obra atraente aos leitores, com uma linguagem fácil e objetivava de abordagem e um tema envolvente, faz com que facilmente se tenha o domínio da história. Sem ter a percepção concebida se passam páginas e páginas de leitura, e quando nos damos conta já foram lidas mais de vinte paginas.

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