PLANTAÇÃO
(Claudino de Lucca)
Plantei amor como quem planta trigo,
não pelo simples ato de plantar.
Plantei com as mãos,
destoquei de enxada,
fiz a queimada,
sapequei os braços, espinhei os pés
e a minha fadiga foi abençoada.
Escolhi o terreno,
separei semente,
não usei veneno,
e muito contente
arranquei o mato que se misturava.
Esperei a chuva, até rezei por ela,
e o inverno trouxe a primeira geada
que eu vi da janela.
Descansei o corpo, na aurora nativa deste trigo novo,
e senti do chão a vida brotando.
E a plantação, que era só minha
crescia sozinha e amadurecia.
O vento triste dos desencantos soprou do norte
pressagiando a morte das novas espigas,
mas minha cantiga
foi poncho, esperança
e logo a bonança veio, de mansinho,
e se instalou de vez.
Perto da colheita, esmaguei com a mão
e provei com a boca, o sabor do grão,
e me surpreendi com o resultado.
Aí fiz farinha, mais pura e branquinha que já tinha visto.
Depois fiz pão, simples como o feito em casa,
e dividi com todos que encontrava
e ganhei sorrisos pelos caminhos.
E os passarinhos cantavam felizes,
catando as migalhas.
E ao final de tudo, no fundo do saco
eu guardei para ti o meu melhor pedaço,
Mas se não o queres, não tem importância,
eu até nem ligo,
só plantei amor...como quem planta trigo!
Realmente uma linda poesia.
ResponderExcluirOs devaneios da língua portuguesa proporciona a opção de mesclar as palavras e formar uma produção interessante e cativante. São como acordes moldados por um compositor, que os combina e assim constrói uma linda melodia.
Isso é a real cultura Brasileira
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