quinta-feira, 11 de outubro de 2012

MEU OLHAR SOBRE A OBRA


(Marco Aurélio Pinheiro)

“Quando chovia ficava muito difícil de se sair da canhada”. “A casa velha era diferente, tinha cumeeira alta e era coberta de tabuinhas. Quando meu avô construiu ela, não se usava cobertura de telha, se fazia tudo de madeira”. “Depois que esburacamos ao redor da casa, no taquaral, no potreiro, nas lavouras de milho e feijão”. “Em casa, no começo plantava milho, arroz do seco, mandioca, batata-doce, feijão e cana-de-açúcar. Dia que eu mais gostava era dia de fazer melado. Eu levantava com o sol ainda dormindo, botava a junta de bois na canga, enganchava eles na corrente dependurada na roda da moenda e tocava a espremer as canas no moinho”. A partir desses fragmentos pude constatar o quanto significativo foi a mudança em todos os aspectos da vida no campo, desde o tipo de culturas plantadas, o jeito que viviam, modelo de famílias era diferenciado, preferindo-se muitos filhos, as práticas culturais aplicadas eram baseadas outros parâmetros, os quais eram mais trabalhosos e menos lucrativos, no entanto mais ecológicos.

“Na outra semana, derrubamos o resto do mato que havia na propriedade”. “Plantamos soja em toda a terra. Nesse tempo, meu pai nem sabia nada de curva de nível, de conservação de solo, essas coisas. Com as chuvas, a roça ficou lavada, sem força. Tivemos de comprar adubo, calcário, semente selecionada. O pai emprestou dinheiro do banco, pra pagar na safra. Quem podia pensar que ia ser um ano de seca”. ² Podemos concluir com esses fragmentos retirados do livro, que neste momento de nossa história, se incentivou o plantio de uma cultura, a soja. No entanto, os agricultores, em especial os minifundiários, não detinham a mínima tecnologia produtiva exigida, gerando assim a decadência para muitos, para não dizer a totalidade dos pequenos produtores. 

Muitos foram obrigados a entregar suas terras ao banco ou vendê-las para quitarem seus débitos. Com isso, se viram obrigadas a migrar para centros urbanos, gerando vários problemas, os quais atuaram em sinergismo. “Quando o juiz não aceitou a ocupação, devolveu a fazenda pros donos e mandou a brigada retirar os sem-terra. Os colonos não quiseram sair, rasgando a intimação do juiz”.² No livro fica bem claro como se passa a vida no acampamento, sendo caracterizada como uma legítima guerra, que se passa em meio ao movimento dos sem-terra, pois de parte dos assentados cultivava a ansiedade e a vontade de ter novamente a dignidade mínima. Por outro lado, da parte do governo se via o desinteresse pela causa.

O livro “QUEM FAZ GEMER A TERRA” é uma leitura muito leve e de boa compreensão, a qual retrata fielmente a vida e o movimento pelo qual a sociedade brasileira passou, no momento de transição de um modelo produtivo para uma promessa de revolução na agricultura, sem estudos, pesquisas e metodologias aplicadas, gerando assim uma forte migração de massas, desequilibrando a sociedade. O livro consegue demonstrar muito bem todas as etapas dessa transição e pode ser lido com entusiasmo do início ao fim. O autor tem uma maneira de escrever tentando usar uma linguagem típica do carácter do texto, muito rebuscado e meio confuso, como se fosse o inconsciente escrevendo. Conforme as lembranças fluem, ele as vai relatando.

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